quarta-feira, 29 de junho de 2011

IMPRESSÕES DE UM LEVANTE

Publicamos aqui um texto de Wládia Beatriz, aluna/colaboradora do LEVANTE - centro integrado de artes e dança em espaços públicos.

Obrigado Wládia por compartilhar suas impressões com todos.

Até quarta que vem!.
Bjos.
Ederson

Processo de um Levante

Tudo começa sem saber onde vai dar,
E, no entanto, começamos.
Ficamos com o ar, empurramos o ar, sentamos sem fazer muito vento!
Reverenciamos o espaço, depois “entendi” o Ma, o espaço entre algo dentro e fora, entre eu e o mundo... Um espaço sem fronteiras e com bordas, espaço das possibilidades, da defasagem, espaço de encontro com as divindades. Um espaço que se dá, acontece... Ou não!
Nossa presença já interfere no espaço, silêncio!
Na rua a primeira vez é na Santa Cecília, lá onde há uma igreja, agora colocaram uma grande banca de jornal, interferiram no espaço... Há uma banca no meio do caminho, e agora José???
Lá senti o vento das pessoas passando por mim, e não sabia o que era aparecer e desaparecer, e ainda não sei se sei, mas acho tão bonito quando acontece.
Lá também fui movida pelo fazer Nada, N A D A, NADA!!!
Coisa difícil essa, fazer nada, em São Paulo, no meio de uma manhã de quarta-feira, enquanto a cidade ferve, os policiais rondam e o caminhão de gás acelera a pressa.
Coisa esquisita, essa!!!
Fazer nada parece ser um fazer muito, o corpo fica dolorido, e depois esvazia, e fica quieto!
Interferimos e fomos interferidos pelo espaço e pela alma da cidade.
No Páteo do Colégio, o espaço já não é mais um espaço, é diverso, múltiplo. Tantas coisas se passando e a gente lá... Aparecendo e desaparecendo, parados, caídos no chão.
Tantas experiências: agitação e quietude, calor e sombra, barulho e silêncio!
Dentro e fora de mim.
O Páteo já não é mais um e eu também já não sou mais uma.
Olhar o céu e sentir o vento (de novo), ser visível e invisível.
O fio da invisibilidade que nos liga no meio da multidão.
Ficar presente é um presente!
Na Praça Buenos Aires, o verde e o céu nublado, árvores, cachorros, piso áspero.
Entrar e sair,
Compor, olhar e ser encoberta, carregada no colo, correr e se perder.
“Bom dia!!!”
Neste dia estremeci, acordei assim: Estremecida!
Cair junto, esperar a queda, ir ao chão, não perder o eixo.
O tempo e o espaço entre nós.
Desequilibrando, voar, sentindo o vento, ventar! Caindo, levantar, sair, ficando...
Faz-me sentir a vida!
Parque Mário Covas, nossa morada!
No meio da Paulista.
Tem temperatura de mata e calor de concreto, e aqui nasceu Croatã,
Aqui fui sentindo algo acontecer ainda mais, sem que eu soubesse o que era exatamente.
Algo que começou a reconhecer o espaço, algo que ficou com olhos acinzentados e muitas vezes, umedecidos.
Ali ensaiamos muitas vezes, cada dia era único e quando mostramos o processo, vivemos uma experiência também única. O que era um espaço vazio, cheio de possibilidades, se tornou um espaço repleto de pessoas, o coração ficou cheio, a alma transbordando e a cidade pulsando... Visões urbanas, poéticas, delicadas, intensas, inquietas, arriscadas, estavam lá com nosso corpo e com tudo o que nos compõe.
Processos são passagens, não tem fim, o processo de viver então, que nos diga.

“O processo de viver é feito de erros – a maioria essenciais – de coragem e preguiça, desespero e esperança, de vegetativa atenção, de sentimento constante (não pensamento) que não conduz a nada, não conduz a nada, e de repente aquilo que se pensou que era “nada” era o próprio assustador contato com a tessitura de viver – e esse instante de reconhecimento, esse mergulhar anônimo na tessitura anônima, esse instante de recolhimento (igual a uma revelação) precisa ser recebido com inocência, com a inocência de que se é feito...
O processo de viver é difícil? Mas é como chamar de difícil o modo extremamente caprichoso e natural como uma flor é feita...”
(Clarice Lispector)

Wládia Beatriz – Maio /2011

Um comentário:

  1. Obrigada a vocês.
    Viver é compartilhar, sem isso a vida teria pouco sentido, seria pequena e espremida e o que ela quer é ir ao mundo... ao menos é o que eu imagino. Beijos e vamos à mais um Levante.

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