quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

aparecer e desaparecer

Ao passar apressado pela rua talvez vc não veja. Mas eles estão lá. Todos os dias da semana. È certo que não possuem horário assim tão rígido e muito menos pressa para fazer o que fazem. Ocupam muitas vezes um pequeno espaço e podem trabalhar dentro de uma caixa. Seu tempo é outro e seu negócio é feito à mão.
Sobrevivem em meio à selvageria de cidade barulhenta, louca, apressada. Não estão nem aí.
Resolvemos ajustar os olhares para essas pessoas que diariamente "abrem" suas oficinas que só são encontradas com a indicação de alguém que topou com eles por um acaso. ""Fica lá, na loja de parafusos, num cantinho" ou Sabe o bar da esquina? Pois é, no canto do balcão ele tem uma mesinha " ou sabe a casa amarela onde tem o cabeleireiro? Ele fica bem embaixo da escada". Zonas autônomas?
Eles aparecem e desaparecem. São donos de seu tempo e trabalham de acordo com seu próprio ritmo. Existem e não existem.
Vamos colecionar causos dessas pessoas que resistem e sem que percebamos tornam a cidade um pouco mais humana, criando territórios inimagináveis.
mirtes

14 comentários:

  1. Dois pequenos negócios:

    Primeiro: Loja de parafusos da Rua Martim Francisco. Essa loja tem características muito interessantes. É uma loja familiar trabalham ali mãe, tio, avô, neto e ainda tem espaços para colaboradores e profissionais que não tem espaços fixos para trabalhar (eletricistas, encanadores, etc). Nessa loja você pode comprar, por exemplo, um único parafuso. Não precisa comprar aqueles pacotinhos com oito. Parafusos esses que ficam expostos em potes de vidro enfileirados por ordem de tamanho. Ali existe um tempo diferenciado. Existe um espaço para a conversa, para debater sobre o melhor parafuso para determinado trabalho, se vai precisar de bucha e também pode-se ouvir opiniões e experiências, pois sempre tem alguém que vai lhe dar uma dica.

    Segundo: Vendedor de flores da Dr.Veiga Filho. Ele não arma o seu cavalete com tampo de vidro todos os dias. Essa descontinuidade me deixa em duvida: será que o rapa o pegou, será que hoje não tinham flores boas, será que ele armou seu “pequeno negócio” em outro lugar? As rosas são milimetricamente arrumadas. Amarelas, vermelhas, brancas, rosas. Tem também astromélias, lírios, hortênsias... O preço é negociado na hora, se você é cliente, ganha folhagem e uma rosa de brinde na compra dos buquês maiores. Nunca escolha a cor deixe que o acaso lhe presenteie. Do outro lado da rua o irmão do florista vende DVDs. Além do parentesco a descontinuidade também os une.

    Ederson

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  2. Vendedores de pão caseiro!

    No meu trabalho lá em Pinheiros passa uma vendedora de pães numa cesta. São pães dos mais variados. Na maioria integrais e com vários grãos.

    Minha infância/adolescência em Boiçucanga eu tinha um professor de Língua Portuguesa e Literatura que também vendia pães num bicicleta véia (tipo a bicicleta do A Vida é Bela na itália). Os pães eram praticamente os mesmos.

    O que me chamou a atenção é a mesma serenidade dos dois. Uma paz que eles transmitem. Um jeito tranquilo pelo menos com o trato com os consumidores, um jeito de andar tb que transmite isso.

    Será que fazer pão acalma assim?

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  3. Não esgoelem o Diogo...se este comentário aparecer no blog o treinamento dele deu certo!!!
    Quem sabe esse não é o pequeno negócio dele? Beijos

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  4. Em Alagoas com a crise e a falta de trabalho existe todo tipo de lojas informais. Pessoas que vendem de tudo. Sou apaixonado por vendedores de ervas. Adoro aqueles carrinhos cheios de folhas todas com nomezinhos e modo de usar. Mas tem um senhorzinho aqui que anda de casa em casa sem nenhuma erva na mão. Ele pergunta se você tá passando por algum problema, e pode ser financeiro até, dali uns dias ele chega com algumas ervas, sempre de aspecto duvidoso. Mas o seu carisma é tão grande! Numa dessas aparições, eu perguntei: será que essas ervas podem mesmo fazer alguma coisa por nós, ele disse: claro que não! nós e que temos que fazer! nem que seja tomar um chá!

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  5. Ao ler o último comentário lembrei que em Santos também tem um senhor que tem uma banquinha de ervas na praça em frente ao fórum e a catedral, desde tempos muito remotos. Tradicional e poético! Jean.

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  6. Mas eu gostaria de considerar as brechas mesmo, aquilo que provavelmente foi cercado mas parece ter sido enxertado, aquilo que permanece como o mineral, ignorante da pressa do mundo, e não apenas o nomadismo camaleônico.
    Eu gostaria, mas não consigo. Do que não se tem que adaptar às regras da brincadeira, só me vem os chaveiros. O que já bastaria para um tratado semiológico de psicologia social. E das adaptações que me interessam há duas categorias de alfarrábios: os que não tem razão de ser e os que são falsas brechas. Os que não tem razão de ser tem dois representantes perto do estúdio, um na rua das palmeiras, uma quadra antes da Igreja Santa Cecília e outro uma quadra acima do nosso QG. Livros didáticos, volumes soltos de enciclopédias sem fama, revistas de atualidades de 12 anos atrás. Ninguém entra, ninguém compra, ninguém para para olhar. Não é existir sem função a certeza de ser perpétuo? Quem vai alugar 3 metros quadrados e te tirar de lá? Talvez baste esse prazer de apenas ser para justificar ser.
    E há as falsas brechas. Também um alfarrábio, na barão, centro. Brecha para entrar no prédio, brecha para subir a escada, brecha para passar no corredor e de repente se abre um saguão de 5 metros de pé direito coalhado de livros até o teto de parede a parede orgulhosos de seus anos, símbolo de uma abertura ainda mais surpreendente ainda em cada folhear de cada um de seus tomos, um guarda-roupa até Nárnia, um buraco de coelho para Alice, um bom pensamento para Wendy... a realização física da promessa de cada brecha das cidades em que cada construção tem uso, forma e proibições determinadas.

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  7. Lembra da loja chinesa onde o rapaz compra Gizmo no filme Gremlins?

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  8. ahn... lembro o som do vendedor de biju que passa lá na casa da minha mãe... nunca comprei o biju... será que alguém compra? será que alguém afia a faca com o homem que passa com o reco-reco dele e eu ouvia do 10 andar? E os Armarinhos? Esses são entre não ter razão de ser e brechas... Com seus tecidos eternos, velhos botões, ligas de sutiãs de 1960... Uma fita de renda dourada...

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  9. Oi Andrea
    E por ai? Existe esse recurso de ocupar as frestas? de se tornar invisivel? Como e onde se dão os serviços que permanecem no tempo? Vc conseguiu observar algo parecido com São Paulo?
    beijos
    Mirtes

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  10. uma lembrança de minha cidade:
    lá temos uma refeição muito gostosa que se chama AREPA (farinha de milho que só se consegue na Colômbia e na Venezuela, especial para fazer arepas). Pode comer arepa salgada só com queijo, no café da manhã, no almoço, no jantar, com frango,carne,camarão,legumes..., com o que você quiser, e na hora que você quiser! Também há arepas doces com queijo e bocadillo (goiabada). Arepas santandereanas (pra mim das melhores!), boyacences, paisas, arepa e' huevo e muitas mais!

    A cidade tem muitos vendedores informais que vendem arepas pela rua, em carrinhos rolantes ou num pequeno espaço de uma "tienda", uma coisa parecida a um boteco.
    Eles resolvem não só a fome de um dia frio e estressante, senão também a economia dos pedestres com os bons preços que oferecem.

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  11. O fazer dizr do corpo uma dança que nos remete para a sociedade,pois que ela com arte se torne política,afetar o espaço urbano e arquitetônico e ser afetado por eles.Criar rizomas,frestas ,passagens encontrar outros caminhos para o corpo sobreviver a ações que determina a relação artstica com a cidade, olhar para a cidede de manera mais ampla,imagem ocupando o espaço,o público é invadido pela imagem....

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  12. "o que dá a uma cidade o seu caráter especial não é a sua topografia e nem seus edifícios, mas antes o somatório de todos os encontros casuais, de todas as memórias, de todas as letras, de todas as cores e imagens que coalham a memória superpovoada dos seus habitantes". Ohran Pamuk / Istambul - memórias e cidades

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  13. Sabe que aqui, com essa coisa do frio, a rua vira momento de super passagem mesmo, mi... dificil perceber algo porque esta tudo muito organizado, muito regulamentado: a feira aqui, o vendedor ali... cada coisa em seu lugar. talvez só os músicos de rua sejam capazes mesmo de criar as zonas autonomas temporarias, principalmente os que entram nos trens e tocam por duas estações e desaparecem...

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  14. ...Vender pipoca, o jogo do bicho, a cortureira, o homem q vendia cadarço e isqueiro, o vendedor de biblia e enciclopedia, a mulher do cosmético, a lojinha q só vendia ursos e papeis de carta, o homem q vendia pipas e balões, o amolador de facas/alicate,o cachorro-quente eo salgadinho na porta da escola...

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