O Levante começa a ser mais que um nome para o centro de artes para a rua. As pessoas que estão participando dos encontros semanais, para juntos, ouvirmos o espaço urbano, começam a imprimir suas histórias, movimentos e a se olhar e reconhecer como viajantes no mesmo barco.
Primeiro cuidamos para que as possibilidades de tocar o espaço buscassem vias que ficassem entre, que se colocassem em meio a, que possibilitassem caminhar em meio a. Afinamos o corpo para podermos reconhecer as frestas que sussurram aos olhos e ouvidos histórias da cidade ou quem sabe até dos lugares por onde passou o vento que por ali soprava.
A primeira saída à rua deixa o sabor do que significa " liberar uma área, tempo, imaginação ou terra" como diz Hakim Bey. Imediatamente, sem nenhuma espécie da agito ou esforço, pessoas logo completam aquilo que estão vendo ou estranhando: Estão rezando? Foi um assalto? Vai acontecer alguma coisa? Já aconteceu alguma coisa? É teatro?
As perguntas, as pessoas que evitam passar em meio à nós (que estamos simplesmente parados e em pé), a dúvida dos policiais, vão nos dando pistas sobre o lugar e a cidade. Sobre o ritmo, a velocidade, os percursos, os preconceitos, uma infinidade de tons para reflexão imediata e no próprio corpo ( Hakim: a TAZ só se compreende em ação), do que é "liberar uma área". Bem, pelo menos foi essa estratégia adotada nesse dia: fique em pé e apenas fique em pé sem fazer nada, se é que isso é possível.
Será que instalamos um corpo "acima do tempo"? Será que criamos um "momento extraordinário"? Fizemos alguma diferença?
O que sei é que sentimos o tremendo incômodo que causa nas pessoas passar por um corpo parado, presente.
O próximo desafio será.....segredo. Quem passar pela centro talvez nos veja em ação, ou melhor, em não ação. Mas o centro é tão grande não?
Antes não era. Mas isso é assunto do belo artigo do Prof José de Souza Martins : História e crise do centro da cidade.
E é lá onde tudo começou que vamos deixar a dúvida: será que eles estão só olhando? Antes que vc perceba já sumimos!
Mirtes
A urbanização do regaço
ResponderExcluirJoão Cabral
Os bairros mais antigos de Sevilha
criaram uma urbanização do regaço,
para quem, em meio a qualquer praça,
sente o olho de alguém a espioná-lo,
para quem sente nu no meio da sala
e se veste com os cantos retirados.
Com ruas feitas com pedaços de rua,
se agregando mal, por mal colados,
com ruas feitas apenas com esquinas
e por onde o caminhar fia quadrado,
eles têm abrigos e íntimos de corpo
nos recantos em desvão e esconsados.
*
Com ruas medindo corredores de casas,
onde um balcão toca o do outro lado,
com ruas arruelando mais, em becos,
ou alargando, mas em mínimos largos,
os bairros mais antigos de Sevilha
criam o gosto pelo regaço urbanizado.
Eles têm o aconchego que a um corpo
dá estar noutro, interno ou aninhado,
para quem torce a avenida devassada
e enfia o embainhamento de um atalho,
para quem quer, quando fora de casa,
seus dentros e resguardos de quarto.