domingo, 6 de fevereiro de 2011

Começando a navegar.

O Levante começa a ser mais que um nome para o centro de artes para a rua. As pessoas que estão participando dos encontros semanais, para juntos, ouvirmos o espaço urbano, começam a imprimir suas histórias, movimentos e a se olhar e reconhecer como viajantes no mesmo barco.
Primeiro cuidamos para que as possibilidades de tocar o espaço buscassem vias que ficassem entre, que se colocassem em meio a, que possibilitassem caminhar em meio a. Afinamos o corpo para podermos reconhecer as frestas que sussurram aos olhos e ouvidos histórias da cidade ou quem sabe até dos lugares por onde passou o vento que por ali soprava.
A primeira saída à rua deixa o sabor do que significa " liberar uma área, tempo, imaginação ou terra" como diz Hakim Bey. Imediatamente, sem nenhuma espécie da agito ou esforço, pessoas logo completam aquilo que  estão vendo ou estranhando: Estão rezando? Foi um assalto? Vai acontecer alguma coisa? Já aconteceu alguma coisa? É teatro?
As perguntas, as pessoas que evitam passar em meio à nós (que estamos simplesmente parados e em pé), a dúvida dos policiais, vão nos dando pistas sobre o lugar e a cidade. Sobre o ritmo, a velocidade, os percursos, os preconceitos, uma infinidade de tons para reflexão imediata e no próprio corpo ( Hakim: a TAZ só se compreende em ação), do que é "liberar uma área". Bem, pelo menos foi essa estratégia adotada nesse dia: fique em pé e apenas fique em pé sem fazer nada, se é que isso é possível.
Será que instalamos um corpo "acima do tempo"? Será que criamos um "momento extraordinário"? Fizemos alguma diferença?
O que sei é que sentimos o tremendo incômodo que causa nas pessoas passar por um corpo parado, presente.
O próximo desafio será.....segredo. Quem passar pela centro talvez nos veja em ação, ou melhor, em não ação. Mas o centro é tão grande não?
Antes não era. Mas isso é assunto do belo artigo do Prof José de Souza Martins : História e crise do centro da cidade.
E é lá onde tudo começou que vamos deixar a dúvida: será que eles estão só olhando? Antes que vc perceba já sumimos!
Mirtes

Um comentário:

  1. A urbanização do regaço
    João Cabral

    Os bairros mais antigos de Sevilha
    criaram uma urbanização do regaço,
    para quem, em meio a qualquer praça,
    sente o olho de alguém a espioná-lo,
    para quem sente nu no meio da sala
    e se veste com os cantos retirados.
    Com ruas feitas com pedaços de rua,
    se agregando mal, por mal colados,
    com ruas feitas apenas com esquinas
    e por onde o caminhar fia quadrado,
    eles têm abrigos e íntimos de corpo
    nos recantos em desvão e esconsados.
    *
    Com ruas medindo corredores de casas,
    onde um balcão toca o do outro lado,
    com ruas arruelando mais, em becos,
    ou alargando, mas em mínimos largos,
    os bairros mais antigos de Sevilha
    criam o gosto pelo regaço urbanizado.
    Eles têm o aconchego que a um corpo
    dá estar noutro, interno ou aninhado,
    para quem torce a avenida devassada
    e enfia o embainhamento de um atalho,
    para quem quer, quando fora de casa,
    seus dentros e resguardos de quarto.

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